quarta-feira, 20 de abril de 2011

A VIDA NA CIDADE DO INTERIOR

A vida na cidade do interior
É uma vida diferente
Parece uma grande família
Onde todos conhecem toda gente.

Um dá notícia da vida do outro
Pois vivem em comunidade
Sabe se o vizinho é bom amigo
Ou se é perigoso ou covarde.

Da notícia da dívida do outro
Não a ninguém estranha
Sabe se o vizinho é trabalhador
Até quanto ele ganha.

É uma vidinha engraçada
De paz e harmonia
Se deixar de lado as fofocas
Que saem no dia-a-dia.

Quando aparece uma coisa diferente
Vira um comentário geral
– Você sabe que fulana vai casar?
– Não, comadre, pois é, já comprou o enxoval.

Certamente vai vestir véu e grinalda
Para aparecer e ficar graúda.
Pois é, sô, não sei para que essa besteira
Todos estão sabendo que vai casar barriguda.

– Sabe que fulano morreu ontem?
– Nossa, será que foi de repente?
Não, comadre, foi aquele pinguço filho do seu Zé
Que provocou um grande acidente.

Será que ele está preso?
Que nada, a polícia nem foi atrás,
Pois é, comadre Filomena,
Por isso que o mundo está cheio de marginal.

Compadre, vou contar-lhe a mais nova
Nosso vizinho comprou um carro financiado.
Mas como? Ele conseguiu comprar?
Me falaram que ele está quebrado.

Semana atrás o compadre Zé me falou
Que ele estava num beco sem saída
Eu sei que aquela dívida do Pronaf, compadre,
Há muito tempo está vencida.

Como será que ele vai pagar
Se nem tem o que fazer?
Vive sempre de bar em bar
E o que ganha dá mal para comer.

– Comadre Bastiana do céu!
Ontem cheguei ficar arrepiado
Acho que o compadre Chico enlouqueceu
Ou ele está doido ou delirado.

Vi ele junto com nossa vizinha
Num lugar absurdo
Tenho medo que o compadre Bastião fique sabendo
E passa fogo em tudo.

– Que nada, compadre,
Ele já está é carrancudo
Nem dá bola para isso mais
Porque acostumou a viver chifrudo.

– Compadre Tonho, nosso prefeito morreu e esqueceu de cair
Nunca vi uma administração tão enrolada
Já está no fim de seu mandato.
E até hoje não fez nada, nada.

– Pois é, sô, ele queria era só viver folgado
Às custas do dinheiro do povo.
Só quero ver se na próxima eleição
Vai ter coragem de candidatar de novo.

– Caboclo, eu não sei não,
O padre de nossa cidade é um intereceiro
Ele está enchendo o bolso e arrumando a vida
Pois em toda pregação pede mais e mais dinheiro.

Assim é a vida, na cidade do interior
Cheia de fofocas no dia-a-dia
Mas apesar de tudo, são unidos
No sofrimento, tristeza e alegria.

O importante é tocar o barco
E deixar as fofocas de lado
Porque Jesus mesmo disse
Quem perdoar será perdoado.

Fofocas machucam, mas não alejam
Por isso vamos viver com amizade e amor
Na vida gostosa e tranquila
Em nosso querido interior.

Da qual Orizona faz parte
Onde é o grande rincão
Desse simples poeta observador
Zezé da Conceição.


Orizona, 06/12/1999
José de Sousa Péres

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