domingo, 17 de abril de 2011

RECORDAÇÃO DE UM CARREIRO

Hoje com o coração em pedaço
Me senti como uma ave no espaço
Que não tem onde se assentar
Revivendo o passado da vida
Relembrei minha infância querida
Não resisti e me pus a chorar.

Refleti sobre o tempo que se foi
E do meu velho carro de bois
A saudade me fez relembrar
Hoje só a tristeza existe
Me sinto angustiado e triste
Sei que o passado não vai mais voltar.

Ouço meu carro cantando no baixão
Subindo a ladeira da imaginação
Pela saudosa estrada da vida
Transportando a triste realidade
Junto a lembrança e a saudade
Que jamais será esquecida.

Esse carro que já foi sucesso
Carreou esperança e progresso
E ajudou desbravar o sertão
Hoje se acha encostado
Na chuva e no sol abandonado
Sentindo a grande transformação.

Quantas vezes de madrugada
Sendo arrastado pela boiada
Vinha rangindo os cocãos
Transportando o sagrado alimento
Todo tipo de mantimento
Principalmente arroz, milho e feijão.

Meu carro às vezes esquentava
Logo um azeite eu passava
Nos chumaços, cocãos e cantadeiras
Aquele lubrificante especial
Que eu mesmo fazia manual
Tirado do óleo da mamoneira

Quando quebrava chaveia, canzil e fueiro
Eu cortava logo um canzileiro
Sempre fui especializado na profissão
Carregava comigo um machado
Muito bem amolado
E na cintura um facão.

Cangas e cambãos eu mesmo fabricava
E do coro sempre preparava
Tiradeira, ajôjo, brocha e tamoeiro
Hoje navego pelo caminho da saudade
Convivendo com a realidade
Relembrando o saudoso tempo de carreiro

Às vezes sonho com a boiada
Naquele passo lento cortando estrada
Cruzando vereda e chapadão
Meus sonhos vão transportando
Devagar me levando
Para o abismo da solidão.

Aquele carro de bálsamo fabricado
Que se acha podre e encostado
Já foi motivo de orgulho da nação
Era chapeado de esperança
Dos seus pregos só ficou a lembrança
Pois está gravado em meu coração.

Carro de bois sua história é gloriosa
E já fez muita gente famosa
Inspirar seu nome em forma de canção
Mas o progresso sem piedade
Lhe transformou em relíquia de saudade
Para os grandes heróis do sertão.

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