domingo, 17 de abril de 2011

SÍTIO DO MEU AVÔ

A saudade me trouxe de volta
Ao recanto onde eu nasci...
Revivi com emoção e tristeza,
Tudo que existia ali.

Vendo a tapera do meu avô,
O querido berço do meu passado
A emoção embargou minha voz
Ao ver tudo aquilo abandonado.

Vi as marcas do rego dágua
Cavado no meio da pedreira
E o lugar que eu brincava de bola,
Hoje, virou tudo capoeira.

Da antiga bica dágua,
Que só os pedaços encontrei,
Falo com sinceridade,
Quando vi, juro que chorei.

Lembrei-me dos canarinhos que peguei
Catando canjiquinha no chão,
Do arroz limpado no monjoloolo,
Tudo me trouxe tristeza e recordação.

O açude feito de peda,
Hoje está desmoronado,
Só existem sinais e ruínas
E a recordação do passado.

A marca, o sinal da casa,
Na minha mente ficou...
Senti que ali só existe a história,
Do meu velho e querido avô.

Recordei-o sentado na banqueta
E escorado na parede onde ficava,
Com muito amor e carinho
Com seus netos conversava.

Da calçada muito grande,
A saudade do peito não sai,
Tudo é recordação do passado,
Onde morava meu segundo pai.

O assoalho do corpo da casa,
Recordo também a cozinha de chão,
O banco comprido da sala
E na varanda, um cachotão.

O oratório que ficava no quarto,
Onde era guardado a imagem de devoção,
Lembrei-me de sua viola velha,
Disto tudo recordou o Zé Conceição.

O curral feito de pedra,
Parecia a vida do meu avô,
Que foi firme e forte até o fim:
Homem de muita garra e trabalhador.

Lembrei-me do paiol de tábua,
Onde guardava tudo que colhia,
Ali ficava o próprio sustento,
Para seus filhos e para a família.

Na desnatadeira ele fazia creme,
Que na cidade era vendido,
Com muito trabalho e esforço,
Quase de tudo ali era produzido.

Colhia milho, feijão e arroz,
Criava porco e fazia capado,
Moia cana e fazia açúcar,
Também a pinga e o melado.

Eu tenho uma recordação,
Que no meu peito ainda está.
O que ele mais pedia aos netos,
Que não matassem sabiá.

Um dia o encontrei despercebido,
Vi que estava quase chorando,
Prestei atenção no que acontecia
E ouvi um sabiá cantando.

Meu avô era muito simples,
Honesto, humilde e talaveiro;
Foi um homem que não teve ambição
Nem por riqueza nem com dinheiro.

Lembrei da morada de abelha no assoalho,
Aquele mel puro e cristalino,
Era doce como a vida de antigamente,
Do saudoso tempo de menino.

Quando amadourecia a jabuticaba,
Era uma alegria sem igual;
Parecia mesmo uma festa,
Sua netalhada no quintal.

Quando revi sua tapera
E senti a triste realidade;
Que tudo na vida acaba,
Só não acaba é a saudade.

No lugar do esteio de sua casa
Um pé de moreira ali brotou,
Ficando um marco histórico
Da casa do meu avô.

Passei onde era o quarto,
Não contive a emoção,
Daquele momento de tristeza,
Quando coloquei a vela em sua mão.

Deus me chamou para presenciar
O último instante de sua vida,
Ele quis que eu testemunhasse
Seu momento de despedida.

Escrevi esses versos,
Com lágrimas correndo ao chão,
Testemunha do sentimento profundo,
Que sente meu coração.

Dedico essa homenagem a meu avô,
Esteio de uma grande geração
Será eternamente lembrado
Pelo o neto Zé Conceição.

Zezé

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